Publicado em 28/03/2014 às 18:52, Atualizado em 08/09/2022 às 02:35
Acorda Ivinhema, vamos pro Carnaval!
De volta a este espaço, vou continuar tratando dos acontecimentos e pessoas que formaram o que conhecemos como comunidade de Ivinhema. Apesar de já estarmos adiantados na quaresma, gostaria de marcar meu retorno falando dos 20 anos do bloco Los Manés.
Como a maioria dos leitores sabe, Ivinhema sempre foi uma terra de gente festeira e enquanto os carnavais de nossos vizinhos era morno, o nosso pegava fogo. Foi assim desde os anos da criação da cidade em 1963. Os famosos bailes da Acri e as marchinhas do Pedro Jordão já foram contados e cantadas nessas linhas.
A animação ivinhemense, no entanto, foi interrompida no trágico acidente causado por um tornado em 1989, quando o nosso clube desabou e várias famílias perderam filhos e parentes. Nos anos seguintes, tivemos carnavais frios, apesar da iniciativa do Pelé Cineclube e a própria reconstrução da Acri.
Em janeiro de 1995, os amigos de Renato Pieretti Câmara se reuniram na chácara de Seu Capucci para a festa do Canguru. Era a comemoração de boas vindas ao estudante Renato, que havia passado um ano na Austrália. Nas rodas de conversa e cerveja, um dos assuntos recorrentes era o Carnaval que se aproximava.
A animação foi até tarde e no fim da noite a conclusão era de que havíamos de fazer um bloco carnavalesco para reanimar o nosso Carnaval. Nos dias seguintes, os amigos mais chegados só falavam nisso. Os pais e mães também se entusiasmaram e viram a possibilidade de reviver os bons e velhos carnavais.
Um dos principais problemas era o nome. Foram várias tentativas. O primeiro a chegar foi o artigo espanhol Los. Acredito que nossa proximidade com o Paraguai e uma forte dose de ironia, representada em uma propaganda da época, em que um paraguaio atestava a originalidade de determinado produto dizendo: “La garantia soy yo!” foram influências para esta escolha. Surgiram então, Los Amigos, Los muchachos, Los paraguayos e Los Cangurus. Foi a tia Cida Pieretti, que ouvindo as discussões, sugeriu: Los Manés! Foi aprovado na hora.
De início, o grupo seria de 30 pessoas e foi mandado confeccionar 60 camisetas, sendo duas para cada integrante. Não deu para quem quis. Com amigos chegando de fora para passar o carnaval em casa, foi necessário fazer uma busca com todos os que compraram duas camisetas e recomprá-las e passar aos de última hora. Mesmo assim, ficou muita gente de fora. O bloco saiu então com 60 pessoas.
A principal atração do Los Manés, desde seu primeiro ano, foi o caminhão, ou Trio Elétrico Boiadeiro como era chamado em suas primeiras edições. Um monte de caixas de som em cima da gaiola de um caminhão boiadeiro, o povo dentro ou pendurado e alguém no microfone despertando a alegria da cidade. Depois vinha uma fila de carros e mais atrás, a camionete do Xixi Nakamura com outro som.
O Célinho Roda Viva era o presidente da Acri e deixou que o bloco enfeitasse o camarote para chamar a atenção no baile. Depois da festa tinha canja de galinha na casa de um dos integrantes para ninguém ter ressaca.
O Carnaval de 95 entrou para a história dos foliões de nossa cidade. Ele estava vivo e pronto para crescer. Nos anos seguintes chegaram mais gente e novos blocos para colorir ainda mais a festa. O clube ficou pequeno e as ruas passaram a ser o palco da maior festa de Ivinhema. Com 20 anos de existência, o Los Manés passou por gerações, perdeu seu caminhão, mas segue gritando em sua história: Acorda Ivinhema, vamos pro Carnaval!