Publicado em 25/12/2019 às 21:59, Atualizado em 26/12/2019 às 02:02

‘Depressão’ de fim de ano: o que para uns é festa, para outros, é tristeza

Psicóloga dá dicas para fugir da melancolia e compreender os sentimentos de quem está em uma fase ruim nesta época do ano

Da Redação, Ivi Hoje, Midiamax
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A melancolia de fim de ano atinge muitas pessoas, por diversos motivos. Foto: (Henrique Arakaki)

As festas de fim de ano têm um significado muito importante na vida de muitas pessoas que tornam o Natal e o Ano Novo sinônimos de alegria. No entanto, o que para uns é época de felicidade e confraternização, para outros, é um período de tristeza, as chamadas ‘depressão de fim de ano’.

Muitas das vezes, a data traz lembranças tristes para uma pessoa, ou, simplesmente, ela não vê razão para comemorá-las. É o momento em que muitos dizem: “É o primeiro Natal sem o meu pai' ou “Mais um ano sem conseguir comprar uma casa melhor'.

Para a psicóloga Karina Freixes, especialista em cognitivo comportamental, a pressão social que as pessoas passam nessa época do ano de que “precisam estar felizes' é um gatilho para influenciar o sentimento de tristeza de quem não está em um bom momento.

“Dentro do nosso conceito cristão o Natal traz a conotação do amor, família, união, confraternização, reflexão e metas que foram colocadas no começo do ano e que nem sempre são atingidas. Essa época do ano é como se tivéssemos a obrigação de ‘estar feliz’ e as vezes isso não acontece', comentou a psicóloga.

Quando o Natal e o Ano Novo se aproximam, a sociedade vive em euforia, onde o comércio funciona até mais tarde, as famílias se preparam por dias para realizar a ceia e trocarem presentes, decoram e usam enfeites por todos os lados. No entanto, muitos não se sentem parte disso.

“Muitas pessoas se sentem excluídas. Existem situações de perdas como a morte e é como se o lugar na mesa está faltando alguém e isso ativa memórias e um sentimento de tristeza. As vezes uniões foram desfeitas nessa época do ano, um divórcio, relacionamentos, etc. Isso gera nas pessoas um momento de reflexão e melancolia', comentou Karina.

As metas estabelecidas no começo do ano e que, por algum motivo, não conseguiram ser atingidas, também são grandes influenciadoras na tristeza. “Uma coisa bem interessante são as frustrações. Não emagreci o que eu queria, não juntei o dinheiro que eu queria, não paguei a conta que eu queria. Normalmente isso leva a um estado de frustração. Como as crises financeiras. Tudo isso ativa a tristeza que é inerente a todo ser humano', explicou.

Quando falamos em festas de fim de ano, logo pensamos naquelas árvores de natais dos filmes, luzes por todos os lados, a ceia na mesa perfeita, a família ‘zero defeitos’, pessoas sorrindo e pilha de presentes. Mas a realidade é bem diferente.

Cada um vive com o que é possível e o que está ao seu alcance, mas muitas pessoas acabam ‘caindo na pilha’ de expectativas fictícias que são impostas em propagadas e redes sociais.

“Existe a chamada expectativa não realista. De família perfeita, de momento mágico, aqueles cenários lindos. Aí as pessoas olham isso e do lado está ali, a sua árvore de natal simples, com o seu orçamento reduzido e isso acaba as atingindo em cheio', comentou a psicóloga.

Não se isole: para a psicóloga, uma das principais medidas para evitar qualquer tristeza, é não se isolar. “É importante que a pessoa não se isole, não ficar reclusa em um ambiente fechado, chorando. As pessoas ao redor, quando perceberem que alguém está abatido, também devem tomar atitude. Não deixe sozinho, chame para conversar, abrace', aconselhou a psicóloga.

Não finja que está tudo bem: buscando os caminhos para não ficar triste é essencial, mas negar os sentimentos não é aconselhado. “Não precisa fingir que está tudo bem. A pessoa deve procurar alguém de confiança para conversar ou até mesmo um profissional. As vezes ela acha que precisa estar feliz, que precisa participar desse momento alegre, mas ela tem o direito de ficar triste e precisa expor os seus sentimentos', disse Karina Freixes.

Esqueça a perfeição: Muitas pessoas se desesperam quando não conseguem ter uma casa de cinema para o natal, ou um banquete digno da realeza, ou presentes que não são bons o suficiente. Esse cenário ideal não existe. “É muito fácil ser feliz nas redes sociais ou na televisão. É importante valorizar o que temos', pontuou.

Amor gera amor: nessa época do ano é importante também fazer solidariedade e pequenos gestos que possam gerar diferença na vida dos outros. “Sempre oriento os meus pacientes a fazer algo pelas outras pessoas, porque amor gera amor. A gente pode doar alguma coisa, sempre pode ajudar de alguma maneira, pode doar um abraço. Não precisa ir para a África para fazer o bem', comentou a psicóloga.

Mantenha hábitos saudáveis: cuidar da saúde é essencial não só para a época de fim de ano. Não é porque estamos em período de férias que se pode ‘pisar na jaca’. “Às vezes as pessoas vêm de um ritmo muito acelerado de trabalho e de repente param. O corpo tem relação direta com a mente, por tanto, manter um ritmo é importe. Tente desenvolver atividade física, se alimente bem e durma bem. Nada de marotonar séries de madrugada ou descontar a tristeza na bebida ou na comida, pegue leve', aconselha.

Se apesar das dicas da psicóloga, você achar que não é o suficiente, procure um profissional para compreender os seus sentimentos.

Como já dito em uma das dicas pela psicóloga, amor gera amor e solidariedade fortalece o nosso espírito. Pensando nisso, o GAV – Grupo Amor Vida (clique aqui para conhecer), desenvolve projeto para ajudar pessoas que passam por momentos ruins e prepara plantão especial neste mês para conversar com quem passa pela chamada ‘depressão de fim de ano’.

O coordenador do GAV, Roberto Sinai, disse ao Jornal Midiamax que 70 voluntários treinados para ouvir e conversar com pessoas em depressão estão todos os dias disponíveis desde 2012 e que nesta época do ano, a procura por um ouvinte disposto a ouvir sem julgar aumenta.

“O final de ano tem um apelo muito grande na vida pessoal das pessoas. Campo Grande é uma cidade muito universitária e nessa época do ano muitos voltam para casa, outros não. Fim de ano é quando a mãe sente a falta do filho, muitos passam por situação financeira ruim e ficam tristes e não vêm uma saída. Por isso fazemos esse acolhimento, sem julgamento, não demos conselho, nós só queremos ouvir', comentou Sinai.

Os voluntários do GAV trabalham nos plantões 4 horas por semana, sem nenhum retorno financeiro para isso. Treinados para ouvir quem está do outro lado da linha, garantem o sigilo daqueles que têm na escuta uma última esperança.

O grupo atender todos os dias das 7h às 23h. Ligue: (67) 3383-4112, (67) 99266-6560 – Claro ou (67) 99644-4141 – Vivo. Não há identificador de chamadas.