Publicado em 08/01/2020 às 21:44, Atualizado em 09/01/2020 às 01:48
Em depoimento, quatro dos sete presos dizem que túnel que até cofre do Banco do Brasil chegou em cômodo errado
Na madrugada de 22 de dezembro de 2019, os ladrões que cavaram o túnel até o Nuval (Núcleo de Valores) do Banco do Brasil, em Campo Grande, iriam “levantar acampamento” e abandonar o plano de furto, segundo relato de pelo menos três dos sete presos à Polícia Civil.
Os presos permanecem em celas da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assalto e Sequestro) há 18 dias e o advogado entrou com pedido de transferência urgente.
Trajeto - A desistência seria motivada por erro de cálculo, que levou a quadrilha para outro cômodo, ainda distante do cofre onde os ladrões esperavam encontrar cerca de R$ 200 milhões.
Porém, os policiais da Garras já se preparavam desde a noite anterior para invadir os imóveis e prender os criminosos.
Na ação policial, dois deles foram mortos, um com 5 e outro com 4 tiros, segundo relatório da Santa Casa: Antônio Mendes Leal e José Williams Nunes Pereira.
Em depoimento à Polícia Civil, três deles relataram que o plano tinha sido frustrado. Lourinaldo Belisário de Santana, 51 anos, contratado para projetar e escavar o túnel, foi um deles. Sua “expertise” em túneis era conhecida de antigo colega de cela, o “Barba”, com quem cumpriu pena no Estabelecimento Penal Franco da Rocha (SP).
Em setembro, "Barba" entrou em contato com ele, dizendo que pagaria R$ 500 mil pelo “trampo”. Teve duas passagens por Campo Grande para o serviço, a segunda iniciada no dia 18 de setembro, para finalizar o túnel. Em 40 dias de trabalho, escavou cerca de 60 metros.
Em dezembro, segundo depoimento de Lourinaldo, os ladrões tentaram romper o cofre, mas verificaram que a escavação aconteceu em lugar errado e decidiram abandonar o túnel.
Porém, em outro trecho do depoimento, diz que chegaram a tentar arrombar o fundo do cofre, utilizando broca e macaco hidráulico, sem êxito.
Outro que fala da desistência do plano é Robson Alves do Nascimento, 50 anos, contratado para dar suporte ao grupo, sendo responsável pela locação de imóveis e pagamento de despesas. Ele é o único que fala ter se encontrado com “Véio”, o chefe da empreitada. Este havia pedido que ele não fosse no imóvel no bairro Novos Minas Gerais, próximo do banco, pois “não deveria mostrar a cara”.
Antes da prisão, segundo Robson, eles haviam desistido do plano ao perceber o erro do trajeto, sendo que ele levaria um dos integrantes do bando a São Paulo na madrugada do flagrante. Ele havia decidido ficar em Campo Grande, já que a empresa dele em Cuiabá (MT), não estava em nas finanças.
Francisco Marcelo Ribeiro, 41 anos, outro contratado por “Barba”, chegou a Campo Grande em setembro, quando o túnel contava com 12 metros. Durante o tempo que ficou aqui, consta que “reiniciou os trabalhos”, chegando a 22 metros. Em dezembro, voltou para concluir os últimos 6 metros. “(...) pelo que teve conhecimento por intermédio de Barba, não havia sido o local onde conseguiriam acessar o cofre”.
Dos presos, o único que cita que o plano seria retomado após o período de recesso de Natal e Ano Novo é o motorista da empreitada, Bruno Oliveira de Souza, 30 anos. Contratado por R$ 150 mil para conduzir o caminhão que levaria o dinheiro do cofre, Bruno disse que teve acesso ao túnel em novembro e até ajudou na escavação, empilhando sacos de terra.
Ele foi o último a depor, depois que teve alta hospitalar, decorrente de ferimento a tiro na mão direito e lesões no rosto, por conta dos estilhaços. “Pelo que soube”, Bruno disse que a escavação chegou a cômodo errado do imóvel e o plano somente seria retomado após o recesso, se o bando não fosse identificado até lá.
Barba, o elo da maioria dos presos é identificado no depoimento de Wellington Luiz dos Santos Junior, 28 anos, como Renato Nascimento Santana, a identidade usada por Antônio Mendes Leal, morto na ação policial.
Transferência – O advogado Alessandro Farias Rospide diz que foi contratado pelos familiares dos sete presos. Segundo ele, a ideia era abandonar o plano, mas diz que ainda está se inteirando do inquérito.
Na terça (7), entrou com pedido de providências para a transferência imediata dos presos para unidade prisional, já que as celas da Garras não oferecem condições mínimas para o tempo de permanência alcançado.
Segundo o advogado, todos ainda usam a mesma roupa do dia da prisão, “em péssima situação de higiene” e dormindo no “chão puro”, passando frio e presos sem direito a banho de sol. A situação de Bruno seria a mais delicada, já que ainda requer cuidados de higiene e médicos por conta do ferimento na mão.
O pedido ainda não foi apreciado pelo Judiciário.