Publicado em 16/05/2021 às 22:41, Atualizado em 19/08/2022 às 19:39
Estado registra uma das maiores superlotações do país, com pelo menos dois presos por vaga. Em Ivinhema e Dourados, o cenário é ainda pior, com cerca de três detentos para cada vaga
Atrás das grades, população carcerária de 30 das 42 unidades prisionais do Estado teve casos positivos de covid.
Levantamento feito nas penitenciárias do País revelou que Mato Grosso do Sul tem a unidade com o maior número de presos contaminados com coronavírus do Brasil. Conforme o levantamento da Agência Pública, a PED (Penitenciária Estadual de Dourados) lidera o ranking nacional de casos positivos de covid-19 entre as penitenciárias analisadas.
Presídio de Dourados é recordista em presos com covid no País. O maior presídio do Estado confirmou 1.236 casos de covid-19 até o início de fevereiro. Ao todo são 2.380 presos. A penitenciária registrou ainda uma morte entre os detentos e teve 33 servidores contaminados.
É na PED que também está o maior contingente de indígenas encarcerados do país, com 164 presos. Destes, a Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) confirma que 86 indígenas tiveram a doença na unidade.
"Ele teve febre, nariz escorrendo, o corpo todo doendo, disse que juntou tudo, o coronavírus e as outras dores dele. Falou que estava mal, que achava que ia morrer ali mesmo. Testou positivo e ficou em isolamento, acho que por duas semanas", conta Judite*, cunhada de um indígena preso na PED.
Contaminado em outubro do ano passado, o indígena está na faixa dos 50 anos e sofre de doenças como hipertensão e diabetes. A família só conseguiu a confirmação da doença porque a advogada do indígena oficiou a unidade em busca de notícias.
Mesmo com o pedido de um habeas corpus apresentado pela defesa, por conta das comorbidades, a Justiça negou e o indígena enfrentou a covid-19 atrás das grades. Em março deste ano, o detento voltou a sentir sintomas da doença e foi novamente isolado, segundo a cunhada.
Um policial penal da PED, que não quis se identificar, acredita que a contaminação chegou a 90% dos internos durante o surto, que ocorreu entre agosto e outubro de 2020. "A própria direção não soube gerenciar as coisas", revela.
O agente, que atua na unidade há mais de cinco anos, diz que faltam uniformes e equipamentos para os policiais penais, que receberam somente máscaras de feltro para proteção. Em relação aos presos, ele conta que a utilização de máscaras é obrigatória somente nos corredores e que elas não são usadas nas celas e galerias.
Panorama estadual - Conforme a pesquisa da Agência Pública, 30 das 42 unidades prisionais de Mato Grosso do Sul tiveram casos de Covid-19, o que representa 71% do total. Além disso, cinco prisões registraram óbitos.
Até o começo de fevereiro, eram 4.102 presos contaminados e seis mortes. No último boletim de 9 de maio com dados totais, o número chegava a 4.512 contaminações e nove mortes entre os detentos.
Procurada pela reportagem, a Agepen afirmou que o estado promoveu "testagem em massa" e tem "um dos menores índices de óbitos entre os custodiados" do Brasil.
O Estado registra uma das maiores superlotações do país, com pelo menos dois presos por vaga. Em Ivinhema e em Dourados, o cenário é ainda pior, com cerca de três detentos para cada vaga.
No Estabelecimento Penal Masculino de Regime Fechado de Ivinhema, 63 presos tiveram a doença até o início de fevereiro, sendo que 70 pessoas estavam presas no local no final de dezembro do ano passado. Além disso, 11 servidores também foram positivados com covid-19.