Publicado em 28/07/2019 às 19:47, Atualizado em 28/07/2019 às 22:49
Junto com advogada e seu marido fazia extorsão a detentos
A Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul descobriu que o furto de quase 100 quilos de cocaína de dentro do 1º DP de Aquidauana foi o estopim de um esquema de corrupção policial que vai além da negociação de drogas e outros itens apreendidos pelos investigadores: extorção e venda da liberdade de presos pelo antigo delegado titular do local, Éder de Oliveira Moraes.
O Correio do Estado apurou que há pelo menos três anos Moraes, preso desde o dia 24 de junho, atuava em parceria com a a advogada Mary Stella Martins de Oliveira, outra detida pela Corregedoria no caso do furto da cocaína.
O acordo era claro: no início, presos de menor potencial ofensivo, como devedores de pensão e portadores de pequena quantidade de droga, eram extorquidos pelo delegado, que exigia pagamento de uma quantia para liberá-los sem registro da ocorrência.
Com o tempo, Mary se envolveu com Moraes e acusados presos por crimes de maior potencial, como roubos e tráfico, tinham a advogada recomendada para fazer sua defesa. Novamente não se era feito o registro oficial dos procedimentos policiais. E a dupla dividia entre si a propina paga.
Nas investigações da Corregedoria, houve a apreensão de celulares e autorização de acesso a dados dos telefones dos dois, que ligaram o envolvimento do delegado, a advogada e seu marido, mais um dos detidos pelo caso, que já havia sido preso com 200 quilos de cocaína no interior de São Paulo e, em 2012, foi preso com 900 quilos de maconha no Estado.
Moraes é policial há 19 anos e já trabalhou nas delegacias de Rio Negro, Juti e Rio Verde. Ele estava há quatro anos como delegado em Aquidauna.
Mary, por outro lado, foi ex-procuradora jurídica da prefeitura de Aquidauana. Em 2010 foi condenada a três anos e seis meses de detenção por contratar, sem licitação, dois advogados para representar o município em um ação contra a Receita Federal.
PROCESSO
Restando ainda cerca de 15 dias para a conclusão do inquérito, a Polícia Civil ainda guarda os detalhes sobre como se deu o furto da cocaína, ocorrido no dia 10 de junho. Nove pessoas, sendo duas mulheres e sete homens, foram presos por suspeita de envolvimento com o caso. Desses, pelo menos cinco têm ligações com o PCC, facção criminosa que controla o tráfico de drogas e armas na fronteira do Estado com Paraguai e Bolívia.
Levantou a suspeita da polícia o fato de que quatro deles estavam detidos na delegacia no dia do furto da cocaína por falta de pagamento de pensão, evidentemente um crime desprezível. Na avaliação de investigadores, tudo foi premeditado. Pelo menos dois detentos que fazem parte do semiaberto de Aquidauana ajudaram a furtar a droga na madrugada do dia 6 para 7.
A apreensão dos 101 quilos de cocaína aconteceu no dia 30 de maio por policiais rodoviários federais, onde encontraram o entorpecente escondido dentro do tanque de diesel de um caminhão na região urbana de Aquidauana. A droga foi levada até a delegacia, onde ficou nove dias no local.
Para a polícia, a possibilidade de recuperar a droga é remota. Avaliada em R$ 2 milhões, a cocaína teve vários destinos, entre eles portos do Paraná e São Paulo. Tabletes de cocaína encontrados nos carros e nas residências de alguns suspeitos irão ser testados para saber se é a mesma apreendida pela PRF.
Durante o primeiro furto da droga, os suspeitos cerraram barras de ferro da grade onde pegaram as drogas. No segundo furto, eles esqueceram um tablete que vai servir de prova para comparar com a cocaína encontrada no Toyota Corolla do marido da advogada Mary.
Há cerca de duas semana que o 1º DP de Aquidauana funciona com 'correção', ou seja, com os policiais do braço disciplinar da corporação dentro do local acompanhando todos os trâmites. Não é revelado, por enquanto, a quantidade de policiais da cidade envolvidos nos esquemas de corrupção.