Publicado em: 25/12/2025

Violência doméstica explode no Natal com 25 mulheres agredidas em menos de 48h

Do total, apenas 9 manifestaram interesse em solicitar ou manter medidas protetivas de urgência

CampoGrandeNews, Bruna Marques
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Mulher exibe hematomas e ferimentos (Foto: Campo Grande News)

Ao menos 25 mulheres foram agredidas em Mato Grosso do Sul, entre a véspera e o dia de Natal. Os dados constam em boletins de ocorrência registrados no Sigo (Sistema Integrado de Gestão Operacional), a partir de atendimentos feitos pela Polícia Militar em 18 municípios do Estado.

As ocorrências se concentram entre o dia 24 e a madrugada do dia 25, quase sempre dentro de casa, com o álcool como elemento recorrente. Em diversos casos, há histórico de agressões anteriores, medidas protetivas descumpridas ou, de forma ainda mais preocupante, recusa da própria vítima em manter qualquer proteção judicial.

Polícia Militar atende ocorrências de violência doméstica em Ivinhema e Angélica durante período natalino

8ºBPM atendeu, entre os dias 24 e 25 de dezembro de 2025, diversas ocorrências relacionadas à violência doméstica em municípios de sua área de atuação. Os atendimentos ocorreram, conforme descrito abaixo:

Ivinhema - Distrito de Amandina

A Polícia Militar foi acionada via Central de Emergência 190 para atender uma ocorrência de violência doméstica no Distrito de Amandina. No local, a vítima relatou que, após uma discussão no interior da residência, o companheiro passou a proferir ofensas verbais e, em seguida, utilizou um facão para agredi-la, causando lesões no braço e no ombro.

Durante a ação, uma filha da vítima tentou intervir e também acabou ferida no antebraço. Para defender a filha, a vítima arremessou uma pedra contra o agressor, causando ferimento na região da cabeça. Segundo relato, o autor havia consumido bebida alcoólica antes do ocorrido e deixou o local ameaçando retornar.

Após diligências, o suspeito foi localizado em outro endereço no distrito. Foram apreendidas duas armas brancas — um facão e uma faca — e, diante do risco de fuga, foi necessário o uso de algemas. Autor e vítimas foram encaminhados à Delegacia de Polícia Civil para as providências legais, sendo realizados exames de corpo de delito.

Ivinhema

Na madrugada do dia 25/12, a Polícia Militar foi acionada para comparecer a uma unidade hospitalar no centro de Ivinhema, onde uma mulher recebia atendimento médico após ser vítima de agressão doméstica.

Segundo o relato, a agressão ocorreu após uma confraternização familiar realizada em uma chácara na zona rural. Durante uma discussão entre o casal, o autor teria desferido socos contra a vítima, inclusive na região da cabeça. A vítima informou que a filha presenciou parte da situação, o que agravou o conflito.

Após as agressões, a vítima buscou apoio de familiares e foi encaminhada ao hospital, onde permaneceu em observação. Ela informou que, naquele momento, não desejava solicitar medida protetiva, optando por permanecer na residência de sua genitora. A vítima foi orientada a acionar a Polícia Militar caso o autor tentasse novo contato. A ocorrência foi registrada para conhecimento da autoridade policial.

Angélica

No município de Angélica, uma mulher procurou uma equipe da Polícia Militar após sofrer agressões físicas decorrentes de uma discussão com o companheiro. Conforme relato, após o desentendimento, ela saiu do interior do veículo, momento em que o autor deixou o local em alta velocidade, tomando rumo desconhecido.

A vítima apresentava lesões no braço e na perna, sendo encaminhada para atendimento médico no hospital local. Posteriormente, foi conduzida à Delegacia de Polícia Civil para o registro da ocorrência e adoção das medidas cabíveis. Rondas foram realizadas na tentativa de localizar o autor, porém sem êxito.

O 8º Batalhão de Polícia Militar reforça que a violência doméstica é crime e destaca a importância de denúncias imediatas por meio do telefone 190, garantindo resposta rápida e proteção às vítimas.

Em Campo Grande, uma mulher de 42 anos foi agredida com tapas e chutes pelo ex-companheiro, mesmo havendo medida protetiva em vigor. A vítima havia reatado o relacionamento poucos dias antes. Ela apresentava lesões no rosto, braço e tornozelo, mas recusou atendimento médico, não quis a prisão do agressor e abriu mão da própria medida protetiva.

No interior, os registros se multiplicam. Dourados teve três ocorrências distintas em poucas horas, envolvendo mulheres de 21, 26 e 46 anos, todas vítimas de agressões físicas após discussões relacionadas ao consumo de bebida alcoólica. Nenhuma solicitou medida protetiva.

Em Três Lagoas, uma mulher de 29 anos acionou a polícia após o companheiro ameaçar familiares com faca e arrombar portas. O agressor chegou a ser preso, mas, já na delegacia, a vítima desistiu do registro e não quis medidas protetivas.

Casos graves - No meio da sequência de registros, alguns episódios chamam atenção pela gravidade e pelo potencial de desfecho fatal.

Em Paranaíba, uma mulher de 33 anos voltou a acionar a polícia contra o ex-companheiro de 43 anos, um ex-policial penal, já alvo de medida protetiva de urgência. Segundo o boletim, o homem passou a intimidá-la em local público, aproximando-se repetidas vezes. A situação evoluiu para agressões mútuas, inclusive diante da guarnição, e terminou em confusão generalizada na delegacia, com a participação da atual esposa do agressor.

Em Jardim, uma jovem de 21 anos foi atingida por um golpe de faca na perna, desferido pelo companheiro durante uma discussão familiar na madrugada de Natal. Ela precisou de atendimento médico e foi direta ao relatar que quer processá-lo, vê-lo preso e solicitou medidas protetivas. O agressor fugiu do local.

Já em Aparecida do Taboado, uma mulher de 44 anos foi enforcada, jogada ao chão e expulsa de casa pelo companheiro embriagado. O ataque aconteceu em via pública, após perseguição, e deixou escoriações comprovadas por exame de corpo de delito. O agressor foi preso no local, e a vítima requereu medidas protetivas, relatando que nunca havia sido agredida antes.

Medidas protetivas ignoradas ou rejeitadas - Do total de 25 vítimas, apenas 9 manifestaram interesse em solicitar ou manter medidas protetivas de urgência. As outras 16 mulheres não quiseram, desistiram ou abandonaram a proteção judicial, mesmo diante de lesões visíveis, ameaças e uso de armas.

Há ainda casos em que a medida já existia, mas era claramente descumprida, como em Ponta Porã, Aquidauana e Paranaíba, com vítimas e agressores convivendo sob o mesmo teto ou se encontrando livremente.