Os golpes através de pagamento por Pix continuam fazendo vítimas em Campo Grande, e os principais alvos dos estelionatários em quantias altas são os comerciantes. A reportagem conversou com alguns comerciantes de bairro e preparou uma série de dicas da Polícia Civil para que os proprietários das lojas consigam se prevenir na hora de receber pagamentos suspeitos.
Proprietário de uma rede com três supermercados no Bairro Aero Rancho, Rafael Moreno, de 33 anos, optou por usar a própria máquina de cartão para aceitar Pix. O aparelho gera um QR Code para pagamento, e a impressão da via para o comércio e para o cliente sai na hora — assim como é feito o pagamento por cartão. Mesmo assim, ele afirma que os golpistas tentam não colocar a senha no celular, que precisa ser autorizado como quando o pagamento é com cartão.
“Quando aconteceu tivemos um prejuízo de R$ 675, a pessoa ‘montou’ um recibo, a caixa liberou e só depois eu fui conferir. Fiz boletim de ocorrência e fui chamado na delegacia para falarem que era um ‘profissional’ em golpes, já tinha um monte de boletim contra ele, mas infelizmente não aconteceu nada”, lamenta Rafael.
Na segunda vez, a golpista tentou passar um comprovante falso numa compra de R$ 675, foi confrontada pela caixa e disse que iria buscar um cartão físico em casa. “Levamos foto, placa do carro e tudo [na delegacia], mas ela não conseguiu efetivar o golpe e falaram que eu tinha que ir na Justiça. Ela falou que ia buscar o cartão e nunca mais voltou”, relembra.
Erika Falcão, de 39 anos, é proprietária de três lojas de calçados no Bairro Aero Rancho, nas Moreninhas e na Avenida dos Cafezais. Ela lembra que chegou a cair num golpe do Pix agendado na filial das Moreninhas e só percebeu quando foi conferir o caixa, no dia seguinte. “Era uma compra de R$ 420, eu consegui recuperar os produtos porque conhecia a cliente, ela devolveu porque eu fui falar com ela que vi nas câmeras. Mas notei que ela já tinha feito outras compras, em meses anteriores, e toda vez que pagava por Pix ela só mostrava o comprovante na tela, mas cancelava o envio”.
Nas compras anteriores — de R$ 120 e R$ 140 — Erika não conseguiu reaver o valor. “Tem gente que leva golpe no comércio e nem percebe. Se eu não tivesse ido conferir o caixa no final do dia, nem tinha visto”, alerta.
Lúcia Freitas, de 39 anos, é vendedora de uma loja de acessórios e confessa que começou a ficar mais atenta com vendas por pagamento no Pix só depois de ser alertada por uma cliente. “Ela falou para mim ‘toma cuidado, você mal olha o comprovante’. A partir daí, quando é alguma pessoa estranha a gente liga para a patroa para confirmar na conta”, afirma.
Há cerca de um mês, a loja passou a receber pagamento por Pix apenas na máquina de cartão, assim como o supermercado de Rafael. O QR Code tem um tempo de pagamento para o cliente efetuar a compra e Lúcia confirma a venda apenas após a impressão do comprovante físico. Mesmo com a taxa da bandeira da máquina, ela garante que “compensa pagar para ter menos trabalho”.
Vendedora de uma loja de roupas, Larissa Eduarda Silva dos Santos, de 21 anos, afirma que a política de aceitação de Pix na loja é de que o cliente envie o comprovante diretamente no WhatsApp do patrão. Antes de liberá-lo, com as compras, Larissa precisa confirmar se o dinheiro caiu. “Já aconteceu uma vez de tentarem dar golpe, aí eu chamei o patrão, o cliente também não percebeu, mostrou para mim e o patrão falou que estava agendado. Conseguimos reverter, mas era uma venda baixa, de R$ 18”, lembra.
Ainda segundo ela, o pagamento por Pix é o mais utilizado devido à agilidade, e também por serem valores menores, já que a loja trabalha com peças de até R$ 20. “E também no cartão de crédito tem a taxa, então os clientes preferem pagar direto no Pix”, afirma Larissa.
Segundo Reginaldo Mazaro Martins, proprietário do Maranatha Pet Shop, uma estelionatária aplicou golpe utilizando pagamento por Pix. Conforme explicado por ele, ela se passava por cliente e fazia compras de R$ 50, R$ 100 e R$ 200 com comprovantes de pagamento falsos. Ao constatar que os primeiros golpes deram certo, ela fez uma encomenda de mais de R$ 3 mil e disse que era para doação.
“Eu estranhei, mas ela já tinha o cadastro, só que morava em um lugar e mandou entregar em outro. A equipe de vendas se distraiu e, dentro de uma hora, não creditou. Tive que ir na delegacia e registrar o boletim de ocorrência, além de mandar um funcionário meu lá, porque já tinha entregado as rações”, explica Reginaldo.
Após a dor de cabeça, o comerciante foi verificar as outras compras feitas pela estelionatária. Foi só então que constatou que nenhuma das compras feitas por ela havia sido paga. O prejuízo ultrapassou os R$ 2 mil. O pet shop, então, passou a ter novas estratégias para evitar que funcionários caíssem em golpes.
“Se é cliente antigo a gente manda foto do Pix para conferência, mas na dúvida checamos com o financeiro. Só que sábado, por exemplo, o financeiro não abre. Agora geramos QR Code do valor e o cliente faz o pagamento por meio do ‘copia e cola’. É uma segurança para nós e para o cliente”, detalha o proprietário do Pet Shop.
Como se prevenir
A delegada Francieli Candotti, da 7ª Delegacia de Polícia da Capital, relata que a estelionatária que aplicou golpes no Pet Shop também fez outras vítimas na Capital, do mesmo ramo. A autora encomendava ração da loja e mandava entregar no endereço de uma pessoa para quem ela já tinha vendido a suposta ração por um preço mais barato.
“Ela pagava o Pet Shop com um comprovante falso por Pix, o funcionário não checava direito, e ao mesmo tempo anunciava em um site de vendas coletivas ‘vendo ração mais barata’, então a pessoa pagava ela, mas quem entregava era o Pet Shop”, explica.
A delegada orienta que é fundamental verificar a data, o favorecido e o valor do comprovante após algum comércio receber pagamento via Pix. “Como hoje as pessoas têm pressa, tudo é imediato, às vezes, não conferem o comprovante. Se olhar bem pode ter data alterada, nome do banco errado, erro de português e nome do favorecido errado”, explica.
Além disso, a delegada orienta que os funcionários, principalmente de caixas, devem saber no nome de quem está a razão social da empresa. “O nome fantasia pode ser mercado X, mas o nome de quem vai sair o comprovante é outro”, detalha Candotti.
Segundo ela, a principal forma de golpe aplicado ultimamente com o Pix é o de cancelar um pagamento com data agendada. Outra dica é que os comerciantes estabeleçam um limite para pagamento por Pix.
“Para quem tem possibilidade de checar a conta, melhor ainda. Mas eu como comerciante tenho que pensar ‘eu vou aceitar Pix até quanto?’. Se o comércio é pequeno, de salgadinho, por exemplo, eu vou aceitar um Pix de R$ 1.000? Não, estabelece um limite e passou esse valor apenas TED, ou cartões”, opina.
Candotti ainda explica que a maioria dos comerciantes sente vergonha em registrar boletim de ocorrência na delegacia ao cair em um golpe. Além disso, a Polícia Civil geralmente chega até a autoria, mas é difícil que a vítima consiga o dinheiro de volta. “Na autoria a gente até chega, mas 90% das vítimas de estelionato querem o dinheiro de volta. Quando cai na conta, o golpista já saca, ou dependendo é até a conta de um laranja ou que foi criada com documento falso”.
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