"Não desejo o que passei para ninguém", conta sobrevivente de ataque de onça

Morador foi atacado ao sair de casa para trabalhar e viu o cachorro ser levado pelo animal

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Valdinei da Silva Pereira após ataque (Foto: Arquivo Pessoal)

"Foi uma pancada que meu corpo está todo dolorido. Eu não desejo pra ninguém o que eu passei ontem", desabafa Valdinei da Silva Pereira, de 57 anos, após um encontro único e que ninguém deseja na vida. O Homem sobreviveu a um ataque de onça-pintada na noite de quarta-feira (6), em Corumbá, região de mata às margens do Rio Paraguai. O morador foi surpreendido pelo felino nas imediações do Mirante da Capivara, quando saía de casa para trabalhar, por volta das 21h30. Mesmo machucado e em choque, ele conseguiu escapar com vida, mas viu o cachorro ser levado pela onça diante dos próprios olhos.

“Eu desci pra tomar banho, tava com a lanterna do celular. Só sei que levei um baque e dei um 'sanfonão' nela”, lembra Valdinei, se referindo ao movimento brusco que fez ao tentar afastar o animal. Ele ainda conta que já havia visto a onça antes, rondando a casa, mas nunca imaginou que seria atacado. “Ela está pela região desde maio. Já levou e comeu dois cachorros meus. Uma vez eu vi ela pegando o cachorro e fui pra cima com um pedaço de pau. Ela correu. Mas dessa vez, não vi nada, estava escuro”, relata.

Depois do ataque Valdinei conta que foi dormir. "Fechei meus outros cachorros e me tranquei no quarto. Hoje cedo, tive que ir no posto". O caso só veio à tona na manhã desta quinta-feira (7), quando parentes e vizinhos notaram a ausência dele e chamaram o Corpo de Bombeiros. Valdinei foi encontrado ferido em um barranco próximo de casa, com cortes na testa, lesão no olho direito, ferimentos superficiais no nariz e fortes dores no tórax. Mesmo diante da gravidade, ele resistiu e procurou ajuda por conta própria no Pronto-Socorro Municipal.

Clara da Silva Pereira Duarte, irmã do trabalhador, conta que vive dias de medo e tensão. Ela mora nas proximidades e também tem enfrentado o convívio forçado com o grande felino. "Desde maio, ela aparece por aqui direto. Já matou três cachorros dele e dois meus. No sábado, ela apareceu na minha casa. Eu tô até doente, com problema no coração. Fico nervosa, tremendo, com medo de sair de casa", desabafa.

Clara conta que ouviu o grito do irmão por volta das 21h30. “Ele tava chegando pra se arrumar e ir pro serviço. Quando chegou perto de casa, a onça atacou. Levou dois cachorros dele, um bem grandão. Já matou dois meus na porta de casa. O clima agora é de medo”, relata.

Apesar de já ter relatado aparições anteriores do animal, os ataques vêm se intensificando, e a onça-pintada parece cada vez mais adaptada ao ambiente urbano da cidade. Desde março deste ano, os avistamentos na área urbana de Corumbá se tornaram frequentes. O primeiro registro oficial foi feito em março, e desde então moradores alertam para a presença constante do felino em regiões habitadas.

Prevenção - Para prevenir novos ataques, a Prefeitura de Corumbá, com apoio do Ibama, PMA e Instituto Homem Pantaneiro, montou um plano de ação com orientações à população e instalação de repelentes luminosos nos pontos de maior risco. Os equipamentos emitem luzes em sequência para afastar os felinos. Avistamentos de onças podem ser comunicados pelos telefones (67) 3232-2469 ou (67) 99266-4052.

Outros ataques - Em abril deste ano, um ataque semelhante terminou em tragédia. Jorge Ávalo, de 60 anos, conhecido como “Jorginho”, foi morto por uma onça-pintada no pesqueiro onde trabalhava como caseiro, a cerca de 150 km de Miranda. Após desaparecer no início do dia 21, vestígios de sangue e pegadas foram encontrados no local.

Dias depois, um macho da espécie foi capturado e exames confirmaram a presença de material humano nas fezes do animal. Batizada de Irapuã, a onça foi encaminhada a um centro de reabilitação em Campo Grande e depois transferida para São Paulo, enquanto seu destino final ainda é avaliado por órgãos ambientais.

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