Entrevistada pela assessoria de comunicação do TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) para falar dos obstáculos enfrentados pelas mulheres no Poder Judiciário, a juíza Larissa Ditzel Cordeiro Amaral, titular da 2ª Vara Cível de Dourados, recordou o dia em que um membro de facção criminosa a afrontou logo após ser condenado. “A viagem valeu a pena, pois a juíza é bonita”, debochou o réu que havia sido trazido de São Paulo para o julgamento em Brasilândia.
No Dia Internacional da Mulher, esse foi um dos relatos feitos por juízas diariamente desafiadas no trabalho simplesmente pelo fato de serem mulheres. Conforme relatado pela Corte estadual, a magistrada “acredita que ser mulher, inteligente, bem-sucedida e ‘ter a caneta’ na mão, por si só, para alguns homens, é uma afronta da qual se defendem com a ignorância típica daqueles que precisam acreditar na superioridade do gênero”.
“Ao longo de minha carreira experimentei inúmeros episódios desagradáveis e outros até risíveis”, afirmou a titular da 2ª Vara Cível de Dourados. Mas o exemplo que ela buscou na memória para ilustrar essa afirmação vem do período em que atuou na comarca de Brasilândia.
Conforme revelado pelo TJ-MS, ela não tinha ainda seis meses de magistratura quando houve um julgamento pelo Tribunal do Júri de um membro de facção criminosa, definido pelo delegado local como muito perigoso. “O réu estava preso em São Paulo e foi levado com escolta para a comarca. Foi um acontecimento na cidade”, descreveu a assessoria da Corte estadual.
“A delegacia só tinha duas celas, mas colocaram o tal preso perigoso sozinho em uma, com medo que atentasse contra a vida ou integridade dos demais. O conselho de sentença o condenou. Enquanto lia a sentença, ele manteve a expressão irônica e debochada e quando os policiais o pegaram pelo braço para levá-lo, ele disse em voz alta: ‘A viagem valeu a pena, pois a juíza é bonita’. Nada demais, mas eu não sabia se ria ou se o enquadrava em desacato. O fato é que se o julgamento fosse conduzido por um homem, este tipo de comentário certamente não seria feito”, recordou a juíza Larissa Ditzel Cordeiro Amaral.
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