Tensão volta a MS após 2 anos da última invasão de área pelo movimento sem-terra

Os acampamentos seguem espalhados pelo Estado, mas a ocupação entrou em declínio

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Policiais do Choque acompanham desmonte de acampamento sem-terra em Dourados (Foto: Divulgação/PMMS).

Até o começo deste 2025, a última invasão de fazenda em Mato Grosso do Sul por trabalhador sem-terra havia sido registrada em fevereiro de 2023, portanto, há quase dois anos. A redução das invasões, que leva tensão ao campo, faz parte de uma nova postura dos movimentos que lutam por reforma agrária.

No sábado (18), 60 pessoas da Frente Camponesa de Luta invadiram a Fazenda São Marcos, em Dourados, a 251 km de Campo Grande. A propriedade é de Fernando de Barros Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai.

Na área funcionava a Usina São Fernando, vendida em 2022 por R$ 661 milhões para ser desmontada. A invasão durou pouco. No dia seguinte, domingo, aconteceu a desocupação após intervenção do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Durante a ação policial, foram apreendidos facões, foice, enxada, “miguelitos” (tábuas de madeira com pregos voltados com a ponta para cima), arame farpado, coquetéis molotov prontos (um deles com rojão acoplado), fogos de artifício e gasolina em galões.

Até então, a invasão mais recente tinha acontecido em 2023, 50 dias após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No fim de semana de Carnaval, propriedade rural localizada em Japorã, foi ocupada por trabalhadores rurais da FNL (Frente Nacional de Luta). No dia seguinte, mesmo sem ordem judicial, os invasores foram expulsos por fazendeiros da região e os barracos queimados. Não houve registro de feridos.

Ao longo dos anos, os acampamentos crescem, mas os episódios de invasão entraram em declínio.

“Vale ressaltar que as ligas camponesas e urbanas do Brasil não compactuam com essa prática, pois a consideramos prejudicial à luta dos camponeses. A lei é clara: quem invade não pode ser assentado, e o imóvel esbulhado perde a condição de vistoria”, afirma Adonis Marcos de Souza, presidente emérito da Liga Camponesa Urbana do Brasil. Ele foi candidato ao governo de MS em 2022.

Atualmente, a liga tem quatro acampamentos no Estado: em Campo Grande, Terenos, Sidrolândia e Ribas do Rio Pardo. São 890 famílias cadastradas no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

Adonis se mostra confiante quanto a futuro. “Todos os acampamentos estão em áreas com processos avançados. Sidrolândia, Terenos e Ribas estão em área de grandes devedores da União”, diz.

Já em Campo Grande, a expectativa é de desapropriação por interesse social. O acampamento 26 de Setembro fica na MS-010, perto de Rochedinho.

Localizado em Nova Itamarati, em Ponta Porã, na MS-164, o acampamento “Abrão Lincon” tem 204 famílias cadastradas no Incra. “Estamos aguardando ansiosos a divulgação concreta da prateleira de terras”, afirma Junior Amaral Sobrinho, secretário do movimento.

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