O clima instável que marcou 2022 foi muito além de bate-papo de elevador. Nas rodas de conversas de sul-mato-grossenses, até as conversas mais sérias foram sobre tempestades, altas temperaturas e clima incompatível com a época do ano e suas consequências.
Ainda em janeiro, os moradores de Mato Grosso do Sul se deparam com um dos cartões-postais naturais do estado modificado pela seca: o efeito La Niña transformou a cachoeira Boca da Onça - maior do Estado - em um grande paredão de pedra.
Vizinhos comentaram ser a primeira vez que presenciaram a cachoeira totalmente seca em período, normalmente, chuvoso.
A situação, apesar de chocante, não afetou apenas Bodoquena, onde a cachoeira está localizada. Ainda no dia 4 de janeiro, o Governo do Estado decretou situação de emergência nos 79 municípios do Estado por 180 dias, cerca de seis meses.
O decreto de emergência, apesar de publicado por conta da seca, prenunciou meses de instabilidade e rápidas transições entre a seca e enchentes que assolaram o Estado.
Apesar da previsão da longa seca, fortes chuvas começaram a cair em fevereiro e deixou moradores ilhados em cidade do interior. Uma chuva histórica de 300 mm, que durou mais de uma semana, derrubou oito pontes e deixou moradores da zona rural ilhados.
A Prefeitura de Camapuã decretou emergência para iniciar os reparos causados pela chuva, estimando gastar cerca de R$ 5 milhões em ações de respostas aos danos.
O que são 300 mm de chuva?
Ao utilizarmos dados meteorológicos relacionados à quantidade de chuvas, é difícil imaginar a fração real de precipitações que atingiu uma região. Assim, as grandes enchentes podem parecer amenizadas quando não há fotos para exemplificar a situação.
Isso porque o volume de chuva é calculado em milímetros (mm) por metro quadrado (m²). Ou seja, em uma área de 1 m por 1 m, 1 litro (L) de água irá subir 1 mm.
Por exemplo, caso você tenha uma caixa que possui a base medindo 1 m de um lado e 1 m de outro, ao jogar um litro de água nesta caixa, essa água vai alcançar a altura de 1 mm.
Para você entender melhor, pense que 1 mm de chuva é o mesmo que 1L de água em uma área de 1 m². Com isso, quando falamos que choveu 300 mm em algum município, é possível afirmar que isso representa 300 litros de água por m².
Alagamentos e temporais continuaram
Logo no início de março, chuvas e tempestades deixaram rastros de destruição em diversos municípios de Mato Grosso do Sul.
Em Campo Grande, carros precisaram trafegar entre ruas inundadas. Além disso, parte do asfalto cedeu e uma cratera se formou na Avenida Ernesto Geisel. Na época, equipes meteorológicas registraram 100mm de chuva em apenas três horas.
Os municípios de Amambai, Nova Andradina e Batayporã também sofreram. Fortes rajadas de vento derrubaram árvores e as chuvas transformaram Batayporã em uma verdadeira ilha.
As tempestades foram o abre alas da primeira onda de frio que alcançava o Estado já no final do mês. Dourados registrou mínimas de 11°C, Três Lagoas ficou entre 23°C e 30°C e Ponta Porã teve mínimas de 10°C, temperatura mais baixa registrada no ano até então.
O frio chega forte em Mato Grosso do Sul
Abril iniciou com frio em Mato Grosso do Sul. Logo nos primeiros dias do mês, as previsões já alertavam para temperaturas mais baixas. Regiões do Estado registraram mínimas de 15°C, enquanto outras já marcavam 12°C.
O mês gelado contou com rápido alívio, ainda na segunda semana. As chuvas também não foram recorrentes, mas aconteceram.
Entretanto, em abril, Mato Grosso do Sul registrou a noite mais fria do ano. Os termômetros marcaram 10°C, mas a sensação era ainda mais baixa. Para aqueles que vivem em situações mais vulneráveis, as cobertas deixaram as camas e passaram a cobrir paredes no intuito de aquecer os cômodos dos moradores.
Inverno seco e quente?!
O inverno em Mato Grosso do Sul retratou o comportamento ao longo de todo ano. Um clima instável e muitas vezes atípico, o popular: “tempo doido!'
Conhecido como um dos meses mais gelados do ano, julho presenteou - ou não - os sul-mato-grossenses com temperaturas acima de 30°C. O calor gerou até mesmo comparações e aqueles com boa memória recordaram que o mesmo mês registrava temperaturas abaixo de 0°C no ano anterior.
A mudança climática possuía explicações. Como noticiado pelo Jornal Midiamax na época, o calor ocorria por conta de uma junção de fenômenos.
A Oscilação Antártica, uma das mais importantes variáveis que impactam as condições no Brasil e no Hemisfério Sul, tanto na chuva quanto na temperatura, era a responsável pelos dias quentes e secos no Estado.
Os dias secos dividiram o protagonismo com o calor durante o inverno. O Governo do Estado chegou a publicar decreto de emergência em 14 cidades devido às queimadas.
O Estado registrava seca extrema durante o inverno e com temperaturas próximas dos 40°C em algumas regiões. Na época, o governo tentava diminuir o número de queimadas provocadas.
Queimadas geraram preocupações, mas foram baixas
Com primavera e inverno registrando clima predominantemente seco em Mato Grosso do Sul, as autoridades passaram a se preocupar com o aumento de queimadas e buscar formas de evitar números como do ano anterior.
O Pantanal sul-mato-grossense sofreu com os focos de incêndio nos primeiros meses do ano, mas o balanço final foi positivo. O Cerrado, principal bioma de Mato Grosso do Sul, também apresentou números inferiores ao ano passado.
De acordo com o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima), entre janeiro e agosto deste ano, os registros apontaram uma redução de 940.950 hectares do Cerrado queimadas em 2021 para 240.075 hectares em 2022.
Do mesmo modo, os focos de calor reduziram 37,22%, pois caíram de 1.201 para 754 focos.
O bioma Pantanal também apresentou redução nas áreas queimadas: de 181.350 hectares entre janeiro e meados de agosto de 2021 para 176.325 hectares no mesmo período deste ano. Gerando uma redução de 2,77%.
Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apontaram um número maior de áreas atingidas por incêndios nos cinco primeiros meses de 2022.
Entretanto, os registros foram menores comparados ao ano de 2020. Pior ano se comparado com os últimos 50 anos registrados. Apesar disso, os dados cresceram em relação ao ano passado.
Conforme o balanço do mapa espacial, em 2020, o número total de queimadas foi de 4.024 áreas por km². Em 2021, o balanço apontou 566 áreas por km². Em 2022, a soma é de 614 áreas por km².
Clima 'doido' fez ipês florescerem mais cedo
As mudanças climáticas registradas ao longo do ano não afetaram apenas as pessoas. Até mesmo os ipês floresceram mais cedo em Campo Grande.
A árvore símbolo da Capital geralmente floresce entre em agosto e setembro. Em 2022, as flores começaram a aparecer já em julho. O clima diferente fez com que a paisagem mudasse totalmente já em agosto, com ipês totalmente florescidos.
De acordo com o biólogo José Milton Longo, as árvores respondem aos estímulos de temperatura e umidade, além do período de luminosidade.
“Como efeito das mudanças climáticas, os ipês-amarelos estão florindo desde julho, principalmente algumas espécies do cerrado, mas agora em agosto começou a floração dos ipês de maior porte', explica.
Variação de tempo segue ao longo do ano
Agosto registrou o triplo de chuva esperado para todo o mês em apenas oito dias. O acumulado na Capital chegou a 83,8 milímetros, enquanto o esperado para o mês era de 31,4 milímetros.
Entretanto, setembro foi de clima seco, com registros de umidade abaixo dos 40% o que passou a afetar a saúde de crianças em diversos municípios do Estado. O Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) chegou a emitir alertas de atenção no Estado para baixa umidade do ar e onda de calor, que ficaram 5°C acima da média em alguns horários.
Novembro registrou chuva abaixo da média histórica e temperaturas que foram de 6,5°C a 40,3°C. Dados do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS) indicaram que Paranaíba registrava situação crítica de seca, com 20 mm de acumulado de chuva mensal, 87,4% abaixo da média histórica.
Ao mesmo tempo, Ponta Porã registrou 277,6 mm de chuva, representando 29,9% acima da média histórica. Campo Grande, Dourados e Corumbá chegaram a registrar as menores temperaturas de novembro entre todas as registradas neste mês nos últimos 49 anos.
Próximos meses devem ser de chuva e clima quente
Dados do Inmet revelam chuvas regulares para os próximos três meses em Mato Grosso do Sul, clima esperado para a época do ano. De acordo com o divulgado pelo instituto, o Estado deve registrar um acumulado de 500 mm a 700 mm nos próximos 90 dias, dependendo do município. O volume de chuva deve ser maior na região Norte.
Acompanhado do tempo úmido, o calor também estará presente no início de 2023. As previsões indicam temperaturas variando entre 25°C e 30°C em todo o Estado. Janeiro deve ser mais quente que fevereiro, com mais cidades registrando temperaturas próximas dos 30°C. A região norte deve ser a mais afetada.
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