O mercado ilegal da cocaína tem passado por transformações no mundo nos dois últimos anos, com os traficantes utilizando cada vez mais tecnologia e química para conseguir expandir o mercado na Europa.
Esse movimento está gerando impacto para Mato Grosso do Sul. As apreensões da Polícia Federal entre 2021 e este ano evidenciam um complemento sobre esse reflexo de alterações.
Além de apreensões da droga em si, a PF passou a identificar os produtos químicos utilizados para essa produção, no caso o acetato de etila e, agora, o ácido bórico.
O relatório mundial sobre drogas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, sigla em inglês) apontou para essa condição no mundo, com olhares atentos para os mercados produtores, no caso Bolívia, Peru e Colômbia.
“As cadeias de fornecimento de cocaína para a Europa estão se diversificando, fazendo baixar os preços e aumentar a qualidade, ameaçando assim a Europa com uma maior expansão do mercado de cocaína. Isso provavelmente ampliará os danos potenciais causados pela droga na região. O número de novas substâncias psicoativas [NSP] emergentes no mercado global caiu de 163 em 2013 para 71 em 2019. Isso reflete as tendências na América do Norte, na Europa e na Ásia', apontou relatório da ONU.
Em Mato Grosso do Sul, diante deste movimento focado em aumentar a oferta de cocaína nos mercados do mundo, o objetivo é consolidar o Estado como uma rota para “exportação' e “importação' da droga.
Em março, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) indicou que cerca de 2,1 toneladas de cocaína foram apreendidas entre janeiro e março deste ano.
O aumento foi de 616% do primeiro bimestre de 2021 para primeiro bimestre de 2022 e 1.114% do primeiro trimestre de 2021 para o primeiro trimestre de 2022.
As ações de apreensão têm atuação do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), principalmente na região de fronteira entre Brasil e Paraguai. O Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco) também tem participação, bem como as Polícias Civil e Militar.
Bolívia e Peru não têm disponíveis venda dos insumos de acetato de etila e ácido borato para realizar a produção e o seu “batismo', que representa no aumento do volume a partir de ações químicas, bem como no incremento de condições do produto, como o de dar “brilho' à droga, para aumentar o valor de mercado.
Para dar conta dessa expansão, a compra dessas químicas é feita no País, principalmente de fábricas localizadas em São Paulo.
Já foi identificado que a cocaína encontrada no Brasil é, em sua maioria, produzida com acetato de etila. A Perícia Oficial da Polícia Federal identificou que 87% dessa droga aprendida é feita com base nessas substâncias.
CONSOLIDAÇÃO
Além da ONU, os Conselhos antidroga tanto de Corumbá como os do Estado estão atentos sobre a situação da cocaína e seu mercado ilegal.
A reportagem do Correio do Estado conseguiu apurar que no Comad de Corumbá, após o dia 21 de abril, os conselheiros farão reunião para discutir medidas que podem ser implantadas para agir no combate ao tráfico transnacional, tanto nas drogas como nos insumos.
A consolidação da rota por meio de Corumbá para a entrega de insumos até a Bolívia para produzir a cocaína já ocorreu. Isso está sinalizado com as apreensões desses produtos que a Polícia Federal realizou entre setembro de 2021 e abril de 2022.
Só no mês passado, 231 toneladas de acetato de etila estavam em cinco caminhões. Essa quantidade de acetato de etila descoberta poderia render uma produção de cerca de 17,7 mil kg de cocaína de alto grau de pureza, que no mercado ilegal tem valor mais alto, algo em torno de R$ 444 milhões, conforme estimativas apuradas com autoridades policiais.
No dia 12 de abril, a PF e a Receita Federal encontraram ácido bórico, usado para aumentar o volume de cocaína, produzir a pasta-base da droga e proporcionar “brilho' para o entorpecente.
“O insumo químico é largamente utilizado no refino e batismo da droga em Corumbá. A ação tem como objetivo dificultar a produção de cocaína nas regiões de fronteira.
“A apreensão reforça o compromisso das instituições envolvidas com o combate aos desvios de precursores químicos nas fronteiras como forma eficaz de combater o tráfico internacional de drogas', divulgou a PF, em nota.
O total de 1,5 tonelada de ácido bórico encontrado em Corumbá poderia produzir ao menos quatro toneladas de cocaína. Essa quantidade pode alcançar cerca de R$ 100 milhões em valores no mercado ilegal.
Essa apreensão de ácido bórico só ocorreu porque o produto acabou acessando o mercado boliviano.
Autoridades do país vizinho fazem operação contra ilegalidades nesta semana e como o condutor do caminhão não entregou documentação exigida, a carga foi devolvida para o Brasil.
A Polícia Federal está com mais de um inquérito para apurar como ocorrem a venda desses produtos. Também será averiguado como essa carga de ácido bórico atravessou a fronteira do Brasil com a Bolívia.
SAIBA
Só no mês de março deste ano, 231 toneladas de acetato de etila que estavam em cinco caminhões foram apreendidas em Mato Grosso do Sul.
Essa quantidade, poderia render uma produção de cerca de 17,7 mil kg de cocaína de alto grau de pureza, que no mercado ilegal tem valor mais alto, algo em torno de R$ 444 milhões.
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