O Sistema de Produção Integrada de Alimentos, conhecido como Sisteminha, acaba de completar 21 anos como uma das tecnologias sociais de maior sucesso no Brasil e adotada em vários outros países. Esse sistema permite que famílias de baixa renda possam se alimentar com o que é produzido localmente, por meio de estruturas simples montadas com recursos disponíveis no lugar.
Além disso, a produção excedente pode ser partilhada com vizinhos ou mesmo comercializada. Ela ganha agora uma versão para auxiliar as famílias a gerar renda por meio do empreendedorismo comunitário, o Sisteminha Comunidades.
Atualmente, além de contribuir para a segurança alimentar e nutricional da família, quando instalado com ênfase na comunidade, a produção é incrementada para atender ao mercado local. Com isso, pode se tornar um modelo de empreendedorismo e desenvolvimento comunitário.
De acordo com as informações da Embrapa, esse processo de escalonamento da produção do Sisteminha está sendo conduzido pela Embrapa Cocais (MA), em algumas comunidades do Maranhão e Piauí, com resultados promissores. O Maranhão adotou a tecnologia em projetos de desenvolvimento social em comunidades indígenas, quilombolas e áreas periféricas.
Do empreendedorismo familiar ao comunitário
Embora seja simples, o Sisteminha tem que ser gerido como uma empresa. A princípio, sem fins lucrativos, mas com clientes. Ou seja, os próprios integrantes da família beneficiada. Os insumos utilizados, como sementes e ração, por exemplo, devem ser escolhidos visando à produtividade.
“Porque não adianta você receber um animal, um pintinho GLK, ISA Brown, com a capacidade de postura de até 300 ovos por ano e não alimentá-lo com ração balanceada específica ou substituí-la por milho e outros alimentos alternativos, que não suprem a necessidade imposta pela alta produção”, observa Luiz Guilherme, pesquisador de Embrapa.
Segundo a explicação do autor da tecnologia, no modelo de execução individual, a família é responsável pela gestão de toda a cadeia produtiva do Sisteminha, incluindo a aquisição de insumos, obtenção de informações técnicas e comercialização dos produtos excedentes, de acordo com as possibilidades de negócios que aparecem (escambo ou venda). “Mesmo com limitações, consegue-se, por meio de alguns multiplicadores populares, racionalizar e organizar a produção de alimentos e a geração de excedentes.
No entanto, o ônus do processo individual de produção não contribui para a formação de uma rede que possa atuar diretamente com o mercado, de modo a profissionalizar o empreendedorismo individual da família, uma vez que o mercado, nesse caso, não é prioridade, mas sim a segurança alimentar,” detalha Guilherme. “O Sisteminha Comunidades, novo modelo do Sisteminha proposto pela Embrapa Cocais, vem para integrar o mercado nas atividades de produção.”
O modelo do Sisteminha Comunidades favorece a execução coletiva nas comunidades e a produção escalada de alimentos. Com isso, o empreendedorismo vai além da estabilização da segurança alimentar e nutricional da família. O excedente da produção dos alimentos pode ser compartilhado, trocado ou vendido entre a comunidade das famílias e comercializado no mercado local para compra coletiva dos insumos e demais necessidades do negócio.
“O papel dos multiplicadores populares é essencial para o sucesso do empreendimento coletivo. São eles que levam o conhecimento técnico-científico para o entorno das comunidades, assim sucessivamente, movimento que pode ser potencializado nas regiões com o apoio institucional”, destaca o pesquisador. Ele afirma que a versão escalada da tecnologia é o Sisteminha melhorado e foca no desenvolvimento socioeconômico da região com sustentabilidade.
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