Por erro de cálculo, quadrilha diz que túnel até cofre seria abandonado

Em depoimento, quatro dos sete presos dizem que túnel que até cofre do Banco do Brasil chegou em cômodo errado

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Seis dos sete presos envolvidos no plano de furto ao Banco do Brasil.

Na madrugada de 22 de dezembro de 2019, os ladrões que cavaram o túnel até o Nuval (Núcleo de Valores) do Banco do Brasil, em Campo Grande, iriam “levantar acampamento” e abandonar o plano de furto, segundo relato de pelo menos três dos sete presos à Polícia Civil.

Os presos permanecem em celas da Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco e Resgate a Assalto e Sequestro) há 18 dias e o advogado entrou com pedido de transferência urgente.

Trajeto - A desistência seria motivada por erro de cálculo, que levou a quadrilha para outro cômodo, ainda distante do cofre onde os ladrões esperavam encontrar cerca de R$ 200 milhões.

Porém, os policiais da Garras já se preparavam desde a noite anterior para invadir os imóveis e prender os criminosos.

Na ação policial, dois deles foram mortos, um com 5 e outro com 4 tiros, segundo relatório da Santa Casa: Antônio Mendes Leal e José Williams Nunes Pereira.

Em depoimento à Polícia Civil, três deles relataram que o plano tinha sido frustrado. Lourinaldo Belisário de Santana, 51 anos, contratado para projetar e escavar o túnel, foi um deles. Sua “expertise” em túneis era conhecida de antigo colega de cela, o “Barba”, com quem cumpriu pena no Estabelecimento Penal Franco da Rocha (SP).

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Túnel tinha 6 metros de profundidade. Foto: (Henrique Kawaminami)

Em setembro, "Barba" entrou em contato com ele, dizendo que pagaria R$ 500 mil pelo “trampo”. Teve duas passagens por Campo Grande para o serviço, a segunda iniciada no dia 18 de setembro, para finalizar o túnel. Em 40 dias de trabalho, escavou cerca de 60 metros.

Em dezembro, segundo depoimento de Lourinaldo, os ladrões tentaram romper o cofre, mas verificaram que a escavação aconteceu em lugar errado e decidiram abandonar o túnel.

Porém, em outro trecho do depoimento, diz que chegaram a tentar arrombar o fundo do cofre, utilizando broca e macaco hidráulico, sem êxito.

Outro que fala da desistência do plano é Robson Alves do Nascimento, 50 anos, contratado para dar suporte ao grupo, sendo responsável pela locação de imóveis e pagamento de despesas. Ele é o único que fala ter se encontrado com “Véio”, o chefe da empreitada. Este havia pedido que ele não fosse no imóvel no bairro Novos Minas Gerais, próximo do banco, pois “não deveria mostrar a cara”.

Antes da prisão, segundo Robson, eles haviam desistido do plano ao perceber o erro do trajeto, sendo que ele levaria um dos integrantes do bando a São Paulo na madrugada do flagrante. Ele havia decidido ficar em Campo Grande, já que a empresa dele em Cuiabá (MT), não estava em nas finanças.

Francisco Marcelo Ribeiro, 41 anos, outro contratado por “Barba”, chegou a Campo Grande em setembro, quando o túnel contava com 12 metros. Durante o tempo que ficou aqui, consta que “reiniciou os trabalhos”, chegando a 22 metros. Em dezembro, voltou para concluir os últimos 6 metros. “(...) pelo que teve conhecimento por intermédio de Barba, não havia sido o local onde conseguiriam acessar o cofre”.

Dos presos, o único que cita que o plano seria retomado após o período de recesso de Natal e Ano Novo é o motorista da empreitada, Bruno Oliveira de Souza, 30 anos. Contratado por R$ 150 mil para conduzir o caminhão que levaria o dinheiro do cofre, Bruno disse que teve acesso ao túnel em novembro e até ajudou na escavação, empilhando sacos de terra.

Ele foi o último a depor, depois que teve alta hospitalar, decorrente de ferimento a tiro na mão direito e lesões no rosto, por conta dos estilhaços. “Pelo que soube”, Bruno disse que a escavação chegou a cômodo errado do imóvel e o plano somente seria retomado após o recesso, se o bando não fosse identificado até lá.

Barba, o elo da maioria dos presos é identificado no depoimento de Wellington Luiz dos Santos Junior, 28 anos, como Renato Nascimento Santana, a identidade usada por Antônio Mendes Leal, morto na ação policial.

Transferência – O advogado Alessandro Farias Rospide diz que foi contratado pelos familiares dos sete presos. Segundo ele, a ideia era abandonar o plano, mas diz que ainda está se inteirando do inquérito.

Na terça (7), entrou com pedido de providências para a transferência imediata dos presos para unidade prisional, já que as celas da Garras não oferecem condições mínimas para o tempo de permanência alcançado.

Segundo o advogado, todos ainda usam a mesma roupa do dia da prisão, “em péssima situação de higiene” e dormindo no “chão puro”, passando frio e presos sem direito a banho de sol. A situação de Bruno seria a mais delicada, já que ainda requer cuidados de higiene e médicos por conta do ferimento na mão.

O pedido ainda não foi apreciado pelo Judiciário.

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