Outubro será extremamente preocupante em relação ao clima e à ocorrência de incêndios em Mato Grosso do Sul. Se o Estado já está registrando ondas de calor agora, no mês que vem a meteorologia prevê calor ainda mais intenso, com possibilidade de recordes históricos.
Sem o alagamento habitual das planícies do Pantanal no período de cheia deste ano e a falta de chuvas regulares desde março, o cenário previsto é dramático.
As consequências desse clima extremo já são notadas agora, com a ocorrência recorde de incêndios por todo o Estado.
No entanto, tudo indica que a realidade continuará assim nos próximos meses, pelo menos até dezembro e janeiro, como explica o meteorologista Vinícius Sperling, do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de MS).
“A falta de chuvas favorece a ocorrência de ondas de calor. Sem nuvens, os raios solares passam com mais facilidade pela atmosfera e aumentam o calor na camada terrestre”, explica o especialista.
“Águas de março” não fecharam o verão
Mato Grosso do Sul já está registrando períodos secos maiores e chuvosos menores, como ocorreu no primeiro semestre deste ano.
Em março, mês popularmente conhecido por ser chuvoso como sinal do fechamento do verão, as chuvas foram muito escassas.
Dos 46 municípios catalogados e analisados pelo Cemtec, somente 13 tiveram chuvas dentro do esperado ou acima da média histórica. Ou seja, 33 municípios tiveram chuvas abaixo da média histórica.
Se for considerado todo o território do Estado, somente a região norte, do município de Sonora a Camapuã, abrangendo Costa Rica, Rio Verde de MT e São Gabriel do Oeste, teve chuvas mais regulares, com escassez de chuvas por até 14 dias.
No entanto, no restante da área de MS, em cerca de 90% do território, a estiagem superou 15 dias de duração, chegando a perdurar até os 31 dias do mês de março, como é possível notar no mapa abaixo.
Progressão da seca ao longo dos meses
Essa realidade representa bem a dureza da estiagem que o Estado enfrenta.
Soma-se a isso o fato de que maio teve chuvas abaixo da média e, em junho, não foram registradas precipitações no Estado. O resultado? Seca ainda mais severa que o normal para esse período do ano.
“A seca se estabeleceu justamente no período chuvoso de Mato Grosso do Sul, avançando pelo território do Estado”, detalha o meteorologista.
Na imagem abaixo é possível notar o avanço da área de seca no Estado a partir de março deste ano.
As áreas em branco são as que registraram chuvas regulares, ou dentro da média. Já as áreas em amarelo são as que não tiveram muitas chuvas e, os tons alaranjados, são as áreas de seca gradualmente mais intensa.
Como fica o futuro?
Segundo o especialista, esse cenário aumenta a preocupação em relação aos meses de setembro, outubro e novembro, quando as chuvas deveriam voltar a ocorrer com maior regularidade.
A chegada da primavera e avanço dessa estação traz consigo a ocorrência de chuvas. Esse período é, inclusive, “aproveitado” pela agricultura para o período de plantio da principal safra, a de verão.
Com a ausência de nuvens no céu e aumento da irradiação solar, há avanço das ondas de calor e aumento da evaporação da umidade, intensificando a ocorrência de altas temperaturas.
Historicamente, outubro é o mês mais quente em Mato Grosso do Sul, com recordes de temperatura. No ano passado, o Midiamax noticiou o calor extremo em MS, quando termômetros chegaram aos 42,5°C em Porto Murtinho e aos 39,4°C em Campo Grande no dia 23 de outubro.
Esse cenário também se torna perfeito para a ocorrência de tempestades, que ficam mais comuns a partir de setembro.
“Diante disso, podemos esperar setembro e outubro muito severos em termos de temperatura, com pouquíssima chuva e, por causa disso, muito calor”, amplia Vinícius.
O cenário ainda pode se arrastar para novembro, e ainda mais agravado do que a realidade registrada no mesmo mês do ano passado. Durante onda de calor, MS chegou aos 43°C na região pantaneira e sudoeste no dia 16 de novembro.
Se a meteorologia prevê máximas acima da média, as temperaturas mínimas também deverão ter variação, ficando mais elevadas. Com isso, as noites deverão ser mais quentes que a média.
Além disso, se no próximo trimestre o fenômeno La Niña se confirmar, que tem 41% de chance de ocorrer, teremos atraso no período de chuvas em Mato Grosso do Sul, com impacto nas temperaturas e, claro, agricultura.
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