O procurador da República e coordenador do Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos de Mato Grosso do Sul, Marco Antônio Delfino de Almeida, expôs sérias preocupações sobre a análise e monitoramento de agrotóxicos no Estado. Um dos problemas, segundo ele, é a ineficiência do Lacen (Laboratório Central de Mato Grosso do Sul) para realizar esse tipo de análise e destacou os riscos à saúde pública.
“Temos uma ação civil pública que foi proposta há 10 anos, justamente apontando que o Lacen do Mato Grosso do Sul não tem capacidade de fazer a análise de riscos dos agrotóxicos, tanto em alimentos quanto na água”, afirmou o procurador.
Para ele, isso representa uma falha grave no sistema de saúde pública, já que a população está exposta ao risco de consumir alimentos e água contaminados, mas não há medidas eficazes para monitorar ou mitigar esses riscos.
De acordo com Almeida, essa deficiência nos laboratórios estatais é um problema antigo, que persiste apesar dos esforços para melhorar a situação. "Mesmo os laboratórios estatais não têm a capacidade de monitorar todos os agrotóxicos autorizados, que podem estar na água consumida pelas pessoas", afirmou.
Outro ponto importante levantado pelo procurador foi a falta de transparência nas informações fornecidas pelas empresas responsáveis pelo abastecimento de água, como Águas Guariroba e Sanesul. Embora essas empresas informem que a água é potável, elas não deixam claro que, em muitos casos, ela pode conter até 40 tipos diferentes de agrotóxicos.
“Se tanto a Águas quanto a Sanesul desejam ser transparentes, elas precisam explicar ao consumidor exatamente quais agrotóxicos estão presentes na água. Essa é uma decisão que deve ser tomada pelo próprio consumidor, que paga pelos serviços de saneamento", disse Almeida. Ele ainda enfatizou que a população tem o direito de saber exatamente o que está consumindo.
O procurador também destacou que não há estudos suficientes sobre os efeitos da mistura de diferentes agrotóxicos na água. "As análises de resíduos de agrotóxicos são feitas com base em dosagens elevadas de um único agrotóxico, mas não se sabe como vários agrotóxicos podem interagir. Isso gera uma grande preocupação em relação à segurança do consumo de água com múltiplos tipos de agrotóxicos", afirmou.
A falta de dados sobre a interação entre agrotóxicos, mesmo em doses abaixo dos limites permitidos, preocupa especialistas e representantes da sociedade civil, como o procurador. “É possível que a combinação de diferentes agrotóxicos, ainda que dentro dos limites permitidos, não seja segura. Não há estudos que comprovem a segurança de consumir uma água com diversos tipos de agrotóxicos ao mesmo tempo”, alertou.
O Fórum de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos de Mato Grosso do Sul tem trabalhado na criação de uma rede de laboratórios especializados, que seriam responsáveis por realizar análises toxicológicas e monitorar os riscos à saúde relacionados ao uso de agrotóxicos no estado. A proposta inclui o uso de recursos de multas ambientais para equipar esses laboratórios em instituições como a Fiocruz e universidades locais.
Resposta - Em nota a Água Guariroba afirmou que a água tratada e distribuída em Campo Grande atende todos os parâmetros estabelecidos pelo Ministério da Saúde. "Os processos de coleta, tratamento e distribuição seguem rigorosos controles de qualidade, com teste feitos em laboratório que atestam a qualidade da nossa água".
De acordo com o documento, a concessionária tem em torno de 300 pontos de monitoramento da qualidade da água espalhados pela cidade. Em 2024, foram coletadas 76,8 mil amostras de água a fim de garantir que a água distribuída seja potável, incolor e insípida (sem sabor). Ao todo, foram realizadas mais de 510 mil análises com base nas amostras de água.
"Nas análises realizadas no laboratório da concessionária são verificados 114 parâmetros de qualidade, atendendo as normas da Portaria nº 888, do Ministério da Saúde, que dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade, como a quantidade de cloro na água, a ausência de coliformes totais".
A Águas Guariroba também acrescentou que possui um laboratório próprio, com processos acreditados pela CGCRE/Inmetro, conforme escopo CRL 0990, garantindo a melhor água do país aos campo-grandenses. "A concessionária se coloca à disposição para outros esclarecimentos por meio de seus canais oficiais da concessionária: 0800 642 0115 (SAC e WhatsApp) e site www.aguasguariroba.com.br", concluiu o documento.
****Matéria alterada dia 8/4/2025 para acréscimo de informação!
Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site.