Com a chegada das chuvas de primavera, incremento na produção de leite, maior importação de derivados e o enfraquecimento da demanda, os preços dos produtos lácteos devem continuar em queda, aponta estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O preço nas prateleiras do leite longa vida, que havia subido 25,46% em julho e caído 1,78% em agosto, teve recuo de 13,71% em setembro, segundo dados desta terça-feira do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasiliero de Pesquisa e Estatística (IBGE).
E o cenário de desvalorização deve não apenas permanecer, mas se intensificar ao final deste ano, de acordo com Natália Grigol, pesquisadora do Cepea.
A média mensal da cotação — entre laticínios e canais de distribuição — do leite UHT de setembro deste ano apresentou queda de 18,9% em relação a agosto, mês que já havia apresentado redução de 15,3% em relação a julho.
O mesmo cenário é observado com os preços da mussarela, que registrou desvalorização de 18% em setembro e de 15% em agosto.
Apenas na primeira semana deste mês de outubro, o leite UHT registrou queda de 1,9% e a mussarela de 1,8%. Os dados, cedidos com exclusividade ao CNN Brasil Business, são do monitoramento do Cepea em parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
A pesquisadora explica o cenário de desvalorização por uma soma de fatores, com destaque para as melhores condições climáticas. O maior volume de chuvas na primavera aumenta a qualidade e disponibilidade das pastagens, o que traz uma diminuição do custo do produtor em relação à alimentação animal — e isso beneficia a atividade leiteira e aumenta o nível de produção.
“Com isso, os preços tendem a cair neste último trimestre do ano. Esperamos que a tendência de quedas nos preços por toda cadeia produtiva se mantenha e se intensifique', completa.
A alta no preço do leite em julho aumentou a rentabilidade do produtor, o que se refletiu em investimento na atividade — de acordo com a análise da especialista. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) do Cepea que mede a variação na captação de leite cru dos laticínios que participam da pesquisa, apontou aumento de 4,8%, de junho para agosto.
Esse é o quarto avanço consecutivo do setor, que tem alta acumulada desde janeiro de 6,3%. “Observamos aumento na captação de leite cru pelas indústrias de laticínios, o que significa que as indústrias estão se abastecendo de matéria prima', afirma.
Natália Grigol ainda destaca que o aumento da importação de lácteos contribuiu para esse cenário. Segundo dados da Secex e do Cepea, em agosto, foram importados 177 milhões de litros em equivalente leite – alta de 63,8% em relação a julho e de 130,3% frente ao mesmo período do ano passado. Na comparação com janeiro, o volume de agosto é 2,6 vezes maior (alta de 161,8%). Com maior oferta de leite e de lácteos, há redução dos preços.
Além disso, a demanda enfraquecida por conta dos valores mais elevados nos últimos meses também pressiona o mercado a encontrar um novo equilíbrio dos preços. “Como houve uma mudança na estrutura produtiva de leite, o potencial da oferta à campo ainda é um ponto de incerteza para o setor, o que dificulta prever a intensidade do movimento de queda de preços nos próximos meses. Mas a nossa expectativa é de que essa tendência de desvalorização nas cotações do leite cru e dos derivados lácteos permaneça, pelo menos, até o final do ano', completa.
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