Léo Veras estava investigando corrupção policial e de autoridades antes de ser executado

Facção emitiu nota descartando participação em morte de jornalista

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Jornalista foi assassinado com 12 tiros (Arquivo pessoal)

Uma reportagem em andamento envolvendo a suposta corrupção de policiais e de membros do Ministério Público paraguaios na fuga de 76 presos na Penitenciária de Pedro Juan Caballero, em 19 de janeiro, pode ter causado a execução do repórter brasileiro Leo Veras, 52 anos, na última quarta-feira (12).

Vários membros do PCC (Primeiro Comando da Capital), pelo menos 40 deles brasileiros, escaparam na cidade paraguaia que é separada apenas por uma rua da cidade sul-mato-grossense de Ponta Porã. A fuga cinematográfica teria custado US$ 80 mil e contado com ajuda de policiais e agentes penitenciários. Desde então, 31 servidores paraguaios, incluindo um ex-diretor do presídio, foram presos.

Além disso, a ‘Fiscalía’ (órgão equivalente a uma Promotoria de Justiça, no Brasil) em Pedro Juan Caballero chegou a ser denunciada na Comissão Permanente do Congresso pela ministra da Justiça do país, Cecília Perez, por ‘aparente inércia’ depois de receber denúncia sobre o planejamento da fuga um mês antes, em dezembro de 2019.

Três ‘fiscalas’ (cargo equivalente ao de promotoras, no Brasil) participam das investigações sobre a fuga. A atuação de uma delas no caso chegou a ser questionada por ser casada com um policial paraguaio que ocupa cargo de chefia justamente na ‘comisaría’ (espécie de delegacia ou batalhão) responsável pela área onde fica a Penitenciária de Pedro Juan Caballero.

Segundo fontes policiais ouvidas pelo Jornal Midiamax, com a fuga em massa sob suspeita, e o aumento da violência na região sul-mato-grossense da fronteira entre Brasil e Paraguai, comparada a Ciudad Juarez, cidade na fronteira mexicana com os Estado Unidos tomada pelo narcotráfico, aumentou a pressão de agências internacionais sobre Assunção para o descontrole no norte do país.

Operações de órgãos como a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) se intensificaram e ganharam apoio das Forças Armadas e de uma Unidade Interinstitucional Contra o Contrabando.

Em Pedro Juan Caballero, Léo Veras havia recebido informações sobre como facções brasileiras estariam corrompendo autoridades paraguaias na região norte do país para ‘segurar a bronca’ dos policiais e agentes envolvidos na fuga. Ele chegou a confidenciar para colegas que já tinha algumas informações, mas não podia publicar por falta de segurança.

Em conversas com celulares oficiais do Jornal Midiamax, o jornalista pedia apoio para fazer veicular as informações que não podia publicar para não por em risco a própria vida. Veras recebeu informações e estava apurando o suposto envolvimento de policiais na facilitação da fuga e de membros do Ministério Público no acobertamento, e corrupção de autoridades ligadas à apuração do fato.

‘Amordaçado’ após ser executado, Léo Veras pode ter sido assassinado porque ‘falou demais’ sobre suposta corrupção de autoridades paraguaias. Com integrantes sob suspeita de participação, a polícia paraguaia de Pedro Juan Caballero, na fronteira seca com a cidade sul-mato-grossense de Ponta Porã, se manifestou oficialmente jogando as suspeitas para ‘uma facção criminosa que atua na região’. No entanto, uma das facções que atuam na região negaram envolvimento no crime.

O Governo Paraguaio enviou para o local força-tarefa com promotores de Assunção para acompanhar as investigações. Logo após a morte, a polícia paraguaia teria removido computadores e documentos na casa do jornalista, onde ele foi executado quando jantava com a família. Após levar os tiros, os pistoleiros ainda amordaçaram o repórter na tentativa de intimidar a imprensa local e supostamente quem estava passando as informações para Veras.

Nas últimas duas décadas, após o enfraquecimento de chefões do narcotráfico que controlavam a região, o norte do Paraguai mergulhou em verdadeira guerra entre bandidos pelo domínio no comércio de drogas e contrabando de produtos muito rentáveis, como pneus e cigarros.

Mato Grosso do Sul, onde a corrupção policial do lado brasileiro facilitou a criação dos chamados ‘túneis’, rotas livres para contrabando, descaminho e narcotráfico, é a área mais cobiçada por facilitar o acesso a todo o Brasil, onde estão os maiores mercados consumidores.

O jornalista tinha bom trânsito nos dois lados da fronteira, tanto com autoridades policiais, quanto com operadores do narcotráfico. Lidar com o submundo e fazer jornalismo sem ferir egos de chefes ou os grandes interesses dos grupos criminosos é condição básica para não morrer na fronteira.

Leo Veras foi sepultado na tarde de quinta (13) sob forte comoção. O cortejo foi acompanhado de viaturas da Polícia Civil, Polícia Militar e Guarda Municipal. No último adeus, amigos e familiares pediram para que o caixão fosse aberto mais uma vez, oportunidade em que trouxeram à tona boas lembranças do jornalista.

A execução

Ao menos quatro pessoas teriam participado do homicídio. Leo estava em casa, jantando com a família, quando o grupo invadiu o local, na noite de quarta-feira (12). Um dos autores ficou no veículo modelo Jeep Grand Cherokee usado no transporte, e outros três realizaram o ataque. Logo ao levar os primeiros tiros, Léo correu para os fundos da residência, uma área escura, na tentativa de se proteger, mas foi perseguido.

Lá, os criminosos os terminaram de matá-lo com o total de 12 disparos. Em seguida o amordaçaram. Vídeos do local do crime divulgados logo após o assassinato mostram um pano branco, ensanguentado, que foi usado para tapar a boca do jornalista. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) falou na quinta-feira (13) que não aceitará que o crime fique impune.

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